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41°06'35.3"N 8°00'30.0"W

Nem só de vinho vive o Douro

Roteiro dos poetas durienses.

Aquilino Ribeiro

Custódia Gaudência punha a forjicar um pedaçorro de marrã, se havia defunto no chambaril. De contrário, imolava um reixedo e toca para a caçoila com bom azeite do Tedo, cebola, batata turca, grossa como cabeças de doutores. Ao cheiro dos petiscos acudiam os afilhados para a varredura dos créscimos, não faltavam os gulosos e os necessitados, esses às novenas, e, rilha que rilha, era como nos dias fartos de segada.(...). Inteigava-se o cristão com caldo de castanhas piladas, miga de unto, pão com cebola ruda ou umas azeitonas do Távora mais pequenas que carrapatos.

Terras do Demo, 1919

João de Araújo Correia

À parte de cemitérios e caminhos, não há na minha montanha decímetro de terra que não conte cepa. Em cada um desses corpos torcidos, passou a mão do homem, plantando, podando, cavando e vindimando. Todavia de tão gloriosa tarefa não há elogio se não o das folhas que vestem o corpo da minha montanha. Esse rico pálio apregoa o labor de mãos calosas. Se não fossem elas, a minha montanha andaria com a cútis negra à mostra. Falemos porém do rico pálio sem nos importarmos agora de quem o tece e de quem o tinge. digamos que é um tecido cambiante de dia para dia e de semana a semana. Do verde primaveril à púrpura outonal, a escala de tons, a mutação de cores, é uma sinfonia de prelúdio tímido e fim heróico. Morre embriagada de vermelho e oiro.

Três Meses de Inferno, 1947

O lume é o homem desde a hora em que o prendeu junto da caverna. Quando lhe falta, falta-lhe alguma coisa... Deixou de cozinhar com lenha, mas, vai instalando, no melhor canto da casa, uma pedra em que acenda o lume. só assim se completa. Quer, sem saber bem o que quer, que o seu domicílio continue a ser fogo. Quer que o fumo lhe saia do telhado. Se assim não for, renunciou ao lar. 

Ecos do País, 1969

Os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos em flor, a frescura das águas cantantes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de paraíso, toda a majestade e toda a lindeza. Deixando resvalar o olhar observe os vales poderosamente cavados (...) os bandos de arvoredos, tão copados e redondos de um verde tão moço e sinta, por todo o lado, o esvoaçar leve dos pássaros.

A Cidade e as Serras, 1901

 Se tiver oportunidade desloque-se da cidade para as serras de comboio pela Linha do Douro e saia na Estação de Aregos que fica perto do hotel. Não deixe de visitar a Casa de Tormes (41°07'29.1"N 8°00'18.4"W) pertencente à Fundação Eça de Queirós onde se passa parte do romance.