ACTA do LI CAPÍTULO GERAL - "Honra e Devoção entre as Gentes do Planalto Mirandês."

ATA de l LI Capítulo Giral – “Honra i Deboçon antre las Gientes de l Praino Mirandés”

Ao nono dia do mês de Junho do ano da graça de dois mil e dezoito, às dez horas e trinta minutos, acrescido de uma hora, na Capital das Arribas, Peredo da Bemposta, Mogadouro, reuniu-se na Igreja Matriz de Peredo, o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, abreviadamente denominada CEGTAD, presidido pelo Grão-Conselheiro.

Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

1.     Leitura e votação da Acta do Capítulo Geral de Outono de 2017;

2.     Rituais de Entronização e confirmação;

3.     Outros assuntos.

O Até Então Tão Somente Mestre de Ritos e Cerimónias, em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, declarou aberta a sessão. Com a sua permissão, as primeiras palavras do Capítulo foram dirigidas às gentes desta tão formosa aldeia do Planalto que tão afincadamente proporcionaram a realização do Capítulo. Estando na programação inicial que a merenda fosse degustada ao ar livre, na vinha de Fernando Mogadouro, houve necessidade de proporcionar que tão deleitosos petiscos fossem serviços na sede da Junta de Freguesia, com a preciosa colaboração da Comissão de Festas do Santo Cristo da Saúde.

O Simplesmente Mestre de Ritos e Cerimónias passou ao ponto 1 da ordem de trabalhos, tendo o Grão-Chancelar procedido à leitura da Acta do Capítulo realizado em Alfândega da Fé. Após sujeita a votação, a mesma foi aprovada por unanimidade pelos confrades presentes.

O Prestes a Não Ser Simplesmente o Tão Somente Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a existência de 1 confirmação e 2 entronizações. Coube a Amândio Teixeira, Confrade Noviço a quem o Directório de Notáveis deliberou propor a Capítulo a passagem a Confrade Irmão, apresentar as suas provas de esforço na valorização dos produtos transmontanos que tão laboriosamente são produzidos pelas suas gentes.

A explanação de provas apresentadas pelo candidato iniciou-se com um argumento que elevou fortemente as expectativas da assembleia, o facto da sua conduta na defesa do saber e sabores transmontanos ter sido influenciada desde a infância, relevando o facto do Confrade Noviço ter sido amigo de carteira de Roger Teixeira Lopes. Sendo Roger confrade de Honra e Devoção, a dissertação do candidato não poderia deixar de evocar a sua memoria. Como amante da liberdade, opositor ao Regime autodesignado por Estado Novo, Roger era um francófono, país da liberdade dos anos 60 para muitos portugueses, homem culto, editor e historiador. O candidato escalpelizou a sua primeira revista, Ouro Virgem, onde realçou três artigos que enaltecem o grande amor de Roger pela oliveira e pelo seu ouro virgem, cujos quilates só são ultrapassados pelos de Teresa.

Foi também entre a Ofélia e a Oliveira que o nosso Confrade Noviço se perdeu de amores. Ambas foram fonte de expiração para a criação da obra prima Dalla-Bella, de sabor amargo e picante com é apanágio do amor, cujo desejo de perfeição não tem limites.

O Já Falta Pouco Pra Deixar de Ser Simplesmente Mestre de Ritos e Cerimónias enunciou as duas entronizações aprovadas pelo Conselho de Anciãos. Fernando Mogadouro e José Ribeiro cujo, acto de posse seria conduzido pelo Grão-Conselheiro. Na condução dos trabalhos, o Grão-Conselheiro retribuiu a palavra ao, por hora, apenas mestre de Ritos e Cerimónias, agora na sua qualidade de Padrinho de Fernando Mogadouro. Apresentou o percurso de vida do entronizado, seguindo o Curso do próprio Rio Douro, desde as Arribas à sua Foz, tendo regressado às Arribas para investir na produção de vinho.

Competiu a Abel Neves a apresentação do entronizado José Ribeiro. Professor de Eng.ª Mecânica na UTAD, é um apaixonado pelos automóveis clássicos e pelos aviões. Para além do seu vasto currículo académico, o seu padrinho realçou a sua paixão pela gastronomia, o que aliada à sua condição de tradutor oficial de português para russo, poderá proporcionar a internacionalização da Cozinha Transmontana a culturas que ainda não se encontram familiarizadas com tal privilégio.

Antes de encerrar o segundo ponto da agenda, o Grão conselheiro propôs um momento de reflexão sobre a dedicação de todos Nós à Confraria. Como mote a esse momento, pediu à Vice Grão-Mestre a apresentação de um pequeno vídeo que ilustra um exemplo daquilo que cada um de nós poderá fazer em prol dos objetivos da Confraria, por Trás-os-Montes, pela sua gastronomia, pelas suas Tradições.

Com argumento baseado numa história verídica, a película foi realizada com a mestria cinematográfica da Vice-Grã Mestre e da Legatária Isabelinha. Embora sem as pretensões de uma curta metragem de Manoel de Oliveira, o filme viria a ter um forte impacto positivo na exigente critica da Assembleia da Confraria, sobretudo pelo exemplo de vida do Actor Principal, nada mais nada menos que o Confrade Domingos Amaro e o Já a Seguir Não Tão Somente Mestre de Ritos e Cerimónias. Durante a apresentação do filme as emoções foram de tal maneira fortes que o pranto do protagonista e dos actores secundários encheu de lágrimas a igreja que quase deixaria o chão tão alagado como a vinha onde a Confraria se viu impossibilitada de instalar a merenda.

Competiu ao Mui Respeitável Grão-Mestre a apresentação da proposta do Diretório de Notáveis, com a abstenção imposta ao visado, o Por Um Fio Tão Somente Mestre de Ritos e Cerimónias, a Confrade de Honra e Devoção. A sua voz embargada foi testemunha da sua enorme Honra em propor este seu Grande Amigo, tendo oferecido o primeiro livro da obra Identidades que se comem – Da rusticidade alheireira à intimista Lhéngua Mirandesa cuja apresentação estava agendada para a tarde. Referiu que esta obra era igualmente uma Honra e Um Tributo a Amadeu José Ferreira, Confrade de Mérito da Confraria, trazido a nosso convívio pelo próprio Domingos Amaro.

Após a aceitação pelo agora Sublimíssimo Mestre de Ritos e Cerimónias, Confrade de Honra e Devoção e a sua admissão pelo Capítulo, decidida por unanimidade e aclamação, foram por estes proferidas palavras de agradecimento a tal distinção. Com a humildade que o caracteriza o Digníssimo Confrade de Honra e Devoção confessou não estar à espera de tão elevado galardão, destinado aqueles que se vão da lei da morte libertando, o que, segundo o próprio, não é o caso, embora esteja muito feliz e honrado com o reconhecimento da Confraria.

Finalmente encontravam-se reunidas todas as condições para o Grão Conselho proceder ao acto solene de juramento dos confrades entronizados, do confrade confirmado e do Abnegado Confrade de Honra e Devoção, sublinhando que a defesa intransigente da gastronomia e vinhos que as gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro tão laboriosamente os produziram é uma obrigação constante no quotidiano de todos.

Após ter sido dada a palavra à assembleia para se pronunciar sobre qualquer tema que à confraria diga respeito, não houve nenhum confrade a usar da palavra.

Antes de terminado o Capítulo de Primavera, o Mui Respeitável Grão-Mestre anunciou a realização do Capítulo de outono em Mirandela, atribuindo o tema ao tributo a Roger Teixeira Lopes e Nuno Jordão, dois confrades fundadores que marcaram decisivamente o nobre percurso da CEGTAD na defesa das identidades da gastronomia transmontana.

O Eminente Mestre de Ritos e Cerimónias, Briosíssimo Confrade de Honra e Devoção deu o Capítulo por encerrado.

Peredo da Bemposta, Terra de Cucos, 9 de Junho de 2018.

O Grão-Chanceler,

José Vieira