ACTA do LIV CAPÍTULO GERAL da idade Moderna- "O regresso de tempos imemoriais. O Almocreve de Culturas"
ATA de l LIV Capítulo Giral de l'eidade d’hoije – “L regresso de tiempos eimemoriales.”. La Mediaçon antre questumes
Ao trigésimo dia do mês de outubro do ano da graça de dois mil e vinte e um, às dez horas, acrescido de uma hora, na Estalagem Bragantina do Almocreve da Cultura, mais conhecido por auditório Paulo Quintela, reuniu-se o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, abreviadamente denominada CEGTAD, presidido pelo Grão-Conselheiro.
Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:
1. Leitura e votação da Acta do Capítulo Geral de Outono realizado há tempo imemorial;
2. Apresentação do Relatório de Contas do período de tempo imemorial
3. Plano de Actividades 2022
4. Rituais de Entronização e confirmação;
5. Outros assuntos.
A escolha de Bragança para a realização do LIV Capítulo Geral, particularmente a opção pelo auditório Paulo Quintela e a realização do repasto nas Quinta das Covas, patrocinada pela Estalagem do D. Roberto, em Gimonde, resultou da visão inigualável do Mui Respeitável Grão-Mestre de o dedicar ao estabelecimento de pontes entre culturas após um tão grande interregno na realização das nossas assembleias magnas.
Efetivamente, depois de esta tão longa travessia do deserto imposta por um fluído vivo contagioso que nos fez catapultar do Paleolítico Superior, do Capítulo realizado no Vale Sagrado do Côa, até à Contemporaneidade, impunha-se esta homenagem a Paulo Quintela, Almocreve da Cultura como o próprio se descrevia.
Em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, o Confrade de Honra e Devoção, Mestre de Ritos e Cerimónias deu início à sessão, propondo a participação do Diretor da revista dedicada ao pensamento gastronómico Inter magazine, Paulo Amado, da Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes, Assunção Anes Morais e do Edil da Cidade Bragantina, Hernâni Dias, para nos transmitir uma mensagem de boas-vindas. De imediato, o Mui Respeitável Grão-Mestre anuiu a participação dos convidados propostos pelo Mestre de Ritos e Cerimónias.
Após as amáveis palavras de boas-vindas a todos os Confrades, Hernâni Dias enalteceu o maior ativo das Terras de Trás-os-Montes e em especial de Bragança: A riqueza da Gastronomia e o facto dessa possibilidade única ter a sua génese nestes territórios. As suas gentes e a sua capacidade laboriosa de produzir as matérias-primas e da sapiência de as transformar nas reconhecidas iguarias. Nessa medida referiu ser uma honra receber a confraria e uma oportunidade para Bragança dar a conhecer este grande potencial turístico que, aliado às magníficas paisagens, é o melhor filme promocional deste território.
Foi com grande emoção que o nosso Confrade de Honra e Devoção relembrou os seus tempos de adolescente estudante na rua onde se localiza o auditório, evocando os aromas típicos das tabernas e descrevendo detalhadamente episódios tertulianos que, por exclusiva falta de espaço na ata, o Grão-Chanceler entendeu não fazer constar. Não obstante, não se poderia deixar de referir a interjeição do Mui Responsável Grão-Mestre, típica da personagem vilã da banda desenhada do Homem-Morcego, ao constar o esforço do Mestre de Ritos e Cerimónias de puxar à saudade e à memória a graciosidade das “Meninas da Mocidade Portuguesa” que da janela observavam tão bem-dotada rapaziada.
Passando ao ponto 2 da ordem de trabalhos, o Mestre de Ritos e Cerimónias convidou o Grão Tesoureiro a apresentar o Relatório de Contas do período de tempo imemorável, período que mediou o LIII e o LIV capítulos da confraria. Enalteceu o esforço do nosso Conselho de Inquiridores que passou os últimos seis meses a validar a colossal torre de documentação que se foi acumulado durante tão prolongado período. Todos os Confrades presentes na assembleia magna constataram visualmente as olheiras e o semblante carregado de quem não pregou olho para que as contas fossem validadas a tempo do Capítulo, personificada no Confrade Adérito Vaz Pinto, mas ainda assim com um ar triunfal de dever cumprido.
Nesta sequência, convém igualmente realçar o esforço abnegado do nosso Grão Tesoureiro em ter mantido as contas da Confraria em ordem durante tão longo período. Ainda assim, realçou os encargos fixos da confraria que correspondem a 72 quotas anuais e que durante este período não foram possíveis cobrar, aumentando o passivo da Confraria. Exortou a Confraria a voltar a ter como referência a organização do famoso inseto de 140 milhões de anos de idade para que a Missão da CEGTAD possa prosseguir, honrando o seu compromisso através da regularização das quotas. Aproveitou ainda para agradecer o esforço de Edgar Bernardo que, a título gracioso, acompanha a contabilidade da CEGTAD. Proposto a votação pelo Mestre de Ritos e Cerimónias, o Relatório de Contas e a respetiva demonstração de resultados foi aprovado por unanimidade.
Passando ao ponto 3 da ordem de trabalhos, o Mestre de Ritos e Cerimónias deu protagonismo ao Mui Respeitável Grão-Mestre para apresentar o Plano de Atividades para 2022. Tomando a palavra, o Mui Respeitável Grão-Mestre ordenou que se passasse às cerimónias de entronização e confirmação, ficando esse ponto da agenda a apresentar oportunamente, antes das considerações finais.
Após a imperativa decisão do Mui Respeitável Grão-Mestre, o Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a existência de duas confirmações e três entronizações. Começou pela apresentação dos confrades noviços que tiveram a audácia de se considerarem capazes de, após tão longo período de pandemia, demonstrarem o seu trabalho árduo em prol da nossa Confraria.
Celeste Guimarães foi a primeira Confrade Noviça a apresentar a sua prova de merecimento de passagem a Confrade Irmã. A sua defesa baseou-se na arte, julgada alcançável por muitos, mas na verdade dominada por poucos, de fazer marmelada. Verdadeira preparação para o amor, própria de enamorados, a sua inspiração não podia deixar de ser o seu rapaz encantado, um trovador com voz doce como a própria o cognominou. E em boa verdade, é da delicadeza com que se lavam os marmelos e da prolongada brandura com que são trabalhados que se obtém o ponto de pérola com que o amor acontece. Findo o acto, é só escorrer para tigelas, cobrir com papel vegetal embebido em aguardente e agradecer à avó a transmissão do conhecimento de receita tão simples, mas que guarda tantos segredos que só o amor consegue revelar.
Seguiu-se Tiago Alves Ribeiro. Nascido em família dedicada à elaboração e comércio da maravilha das 7 maravilhas da gastronomia portuguesa, a sua defesa não podia deixar de estar ligada a este enchido que, reza a lenda, foi criado por cristão-novo. Embora certamente não passe de romantismo popular, a verdade é que este misticismo, aleado à qualidade das carnes, do pão e das sábias mãos de quem prepara este enchido, torna-o um produto de excelência que a produção industrial soube manter, em patamar de elevada qualidade, o processo de produção. Um dos maiores testemunhos dessa qualidade é assegurada pelo candidato que tem sabido modernizar a sua empresa familiar, inovando com tradição e qualidade, como atestem os diversos prémios recebidos em certames realizados por todo o mundo. O Capítulo aprovou por unanimidade ambas as confirmações propostas.
Seguidamente o Mestre de Ritos e Cerimónias enunciou a entronização aprovada pelo Conselho de Anciãos de Teresa Subtil, cuja argumentação foi apresentada pela sua madrinha, Balbina Mendes. Os aromas a fruta de Lagoaça, Terra Natal da candidata, as arribas do Douro e a biblioteca itinerante Calouste Gulbenkian, entre outros cenários de um passado longínquo foram postais nostálgicos que tão bem Balbina soube transcrever na oralidade e os Confrades os souberam visualizar, como se de uma obra-prima de arte plástica se tratasse. Como grande entusiasta da língua mirandesa, Teresa Subtil trará certamente o perfume do verso para a Confraria.
Luís Esteves apresentou no Capítulo a proposta de entronização de Hugo Torrado, previamente aprovada pelo Conselho de Anciãos, apadrinhado por este e pelo Confrade fundador José Teixeira que, como habitualmente, tem o azar dos Távoras de só ter conseguido chegar a horas a Capítulo em Aranda del Duero quando regressava do famoso bar Mississípi. Um convite para os Confrades revisitarem a Ata desse capítulo. Sendo Hugo Torrado capitão da GNR em Mirandela, o primeiro argumento apresentado por Luis Esteves não poderia deixar de ser os sábios conselhos de segurança, nomeadamente a rodoviária que o militar nos poderá proporcionar. Nascido em Pena Branca, Miranda do Douro, Hugo Torrado dominava a língua mirandesa, falada e escrita, quando, aos 18 anos, ingressou na Academia Militar. Após a conclusão do mestrado em segurança interna, vem a exercer funções de comando em vários destacamentos da GNR, vindo a regressar às origens por vontade própria para Comandar o Destacamento de Mirandela. Grande apreciador da gastronomia e vinhos da Região é, de acordo com os proponentes, um grande defensor da segurança interna e um bom chefe de família, apresentando neste último ponto argumentação cuja referência foge ao âmbito da presente ata.
Finalmente, competiu a Mário Amaro apresentar a proposta de entronização de António Jorge Picotez, cujo parecer favorável do Conselho de Anciãos foi já proferido. Na relação de amizade de ambos dura há uma década e nasceu na paixão comum de trilhar em bicicleta todo-o-terreno as serras e vales do Planalto Mirandês e das Arribas do Douro. Embora formado em engenharia civil, é na agricultura que António Jorge tem desenvolvido o seu percurso profissional, produzindo vinhos nas Arribas do Douro a partir de uvas colhidas em vinhas velhas. Uma herança do avô e pai.
Pela quinquagésima quarta vez, a sapiência do Grão-Conselheiro fluiu para a mente dos confirmados e entronizados, embora tenha tido necessidade de recorrer à cábula na cerimónia de juramento, amplamente justificável por a última vez em que tais palavras foram proferidas ter sido há tempos imemoriais. Com a memória reavivada, todos os candidatos e toda a assembleia, mais uma vez, interiorizado o peso da capa que têm a honra de carregar, juraram defender as gentes, dignas habitantes do Reino Maravilhoso, e os seus produtos que tão sabia e ancestralmente os produzem.
O Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a apresentação de dois livros dos Confrades José Carreto e Virgílio Gomes, respetivamente Santiago – A Caminho de Compostela e À Portuguesa, Receitas em Livros estrangeiros até 1900. Competiu a Alexandrina Fernandes e ao Mui Respeitável Grão-Mestre a apresentação, por esta ordem, dos respetivos livros. Ambas as brilhantes apresentações, seguida da exposição dos respetivos autores, provocaram nos confrades um desejo inadiável de uma leitura atenta das respetivas obras. Quiçá a Tarta de Santiago não se terá inspirado nas famosas tortas de Portugal descritas em receituário de 1604 ou as ostras na Perdiz na panela à portuguesa não seriam afinal vieiras.
Antes das sapienciais palavras do mui respeitável Grão-Mestre e aproveitando a apresentação dos livros, o Mestre de Ritos e Cerimónias voltou a solicitar a todos os Confrades que não se abastecem de assinar o nosso Livro de Presenças, porque é também por este intermédio que é feita a história da nossa confraria.
Competiu então ao Mui Respeitável Grão-Mestre apresentar o Plano de Atividades para 2022 que começou pela referência ao desafio lançado aos Confrades de aproveitarem o confinamento para escrever crónicas literárias que possam constituir um primeiro volume da Antologia da Confraria nas comemorações das Bodas de Prata que ficaram interrompidas com a pandemia. Apesar de já ter recebido alguns trabalhos, o seu número não é suficiente para a apresentação da publicação, pelo que exortou todos os confrades a apresentarem os seus trabalhos, tarefa que designou como um verdadeiro dever de confrade.
Fez ainda referência ao percurso de tradutor literário de Paulo Quintela, sem, contudo, deixar de evidenciar a preponderância da sua ação desenvolvida enquanto diretor artístico e encenador do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, organismo académico de que foi um dos fundadores.
Foi ainda realizada pelo Mui Respeitável Grão-Mestre uma sentida homenagem a título póstumo a Bruno Navarro, Presidente da Fundação Côa Parque e nosso anfitrião no capítulo anterior. Licenciado em História e mestre em História Contemporânea, Bruno Navarro foi um ativo dinamizador da internacionalização do Parque enquanto centro de competências científicas de arqueologia e do turismo cultural, que culminou com o feito de trazer, em plena pandemia, o Secretário Geral das Nações Unidas ao Côa. Ficou a certeza de uma continuidade do trabalho através da Prof. Aida Carvalho e a certeza de um breve regresso do Capítulo a Vila Nova de Foz Coa.
O Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a disponibilidade do Mui Respeitável Grão-Mestre em conceder a palavra aos Confrades. Não havendo ninguém interessado, em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, o Mestre de Ritos e Cerimónias deu por encerrado o Capítulo de Outono.
Bragança, Estalagem do Almocreve da Cultura, 30 de outubro de 2021.O Grão-Chanceler, José Vieira