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LVI Capítulo Geral de Outono
Criado por jvieira em 16/10/2022 10:43:59




CAPÍTULO GERAL de OUTONO
Espumantes: Dos Beneditinos Franceses no Século XVI ao Távora e Varosa do Século XIX

10:00 horas às 10:30 horas — Juntança com mata-bicho em Dálvares [Tarouca]
Na CASA DO PAÇO — em tempos idos, casa solarenga pertença de D. Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, albergando, após a sua aquisição pelo Município de Tarouca [2004-2006], a Confraria e o Museu do Espumante, a Rota das Vinhas de Cister e a Comissão Vitivinícola Regional do Távora-Varosa.

10:30 às 13:00 horas ― Auditório da Casa do Paço


ORDENANÇA

1)       Leitura da Acta do LV Capítulo Geral de Primavera 2021 [in Valpaços]

2)       Entronizações [Noviços e Confrade de Honra e Devoção] e Confirmações de Confrades Irmãos

3)       Actividades para 2023 e Outros assuntos

4)       Apresentação do livro Viagem por Portugal em 1484/Nicolaus von Popplau/tradução e notas pelo Confrade Virgílio Nogueiro Gomes
5)  Elogio ao Espumante pelo Professor Orlando Lourenço, administrador da Murganheira – Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa SA/Visita ao Museu do Espumante


Quinta do Lameiro ― Valdevez/Tarouca    

[Rua da Raposeira, Estrada M520]
 
O que vamos comer/beber…
Broas regionais (milho e centeio), bola de Lamego, fumados grelhados e bazulaque… 
Sopa de legumes e borrego assado com batata e arroz de forno
Leite-creme, aletria, arroz-doce … maçãs e peras.

Das Caves da Murganheira

Espumantes [Super Reserva Bruto e Meio-Seco] e Vinhos [Reserva Tinto]


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ACTA do LV CAPÍTULO GERAL – "A Origem da Enofilia"

ATA de l LV Capítulo Giral – “l'ourige de ls afables cul bino

Ao décimo quarto dia do mês de maio do ano da graça de dois mil e vinte e dois, às dez horas, acrescido de uma hora, na Casa do Vinho de Valpaços, reuniu-se o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, abreviadamente denominada Confraria, presidido pelo Grão-Conselheiro.

Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

1.                 Leitura e votação da Acta do LIV Capítulo Geral de Outono de 2021 realizado em Bragança;

2.     Cerimónias de Entronização e Confirmação;

3.     Lagares em estruturas escavadas na rocha pela Confrade Maria de Jesus Sanches, Professora Associada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

4.                 Elogio ao investigador Adérito Medeiros Freitas pelo Confrade Augusto Sequeira Lage da Associação de Vitivinicultores Transmontanos

5.                 Apresentação do livro O Monge Errante do Confrade António Tiza por António Manuel Monteiro, Grão-Mestre da CEGTAD.

Valpaços é o município português com mais lagares rupestres em Portugal. Com a disponibilização comercial do primeiro vinho português certificado produzido em lagares rupestres, o Calcatorium, o mui respeitável Grão-Mestre teve, mais uma vez, a sumidade de associar a reunião magna da Confraria a tão importante evento para os enófilos.

Em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, o Mestre de Ritos e Cerimónias substituto, o confrade João Sá, em alborque do Venerável Confrade de Honra e Devoção Domingos Amaro deu início à sessão sem antes dar as boas-vindas aos Confrades e Convidados.

Após a anuência do mui respeitável Grão-Mestre, o Mestre de Ritos e Cerimónias em exercício conduziu à assembleia Jorge Pires, em representação do município anfitrião.

O Grão-Mestre tomou da palavra começando por lamentar a impossibilidade de participação de um número significativo de confrades e convidados que tiveram de cancelar a participação à última hora em resultado da pandemia. Muito embora haja hoje soluções tecnológicas de participação à distância, não consta, nem nunca poderá constar nos nossos estatutos, outro tipo de participação que não seja presencial. Em boa verdade, nunca poderá haver juntança de gastrónomos e enófilos sem chicha e sem vinho e, acima de tudo, sem afetos e os afetos pressupõem calor humano.

Passando ao ponto 2 da ordem de trabalhos, o estagiário a Mestre de Ritos e Cerimónias deu início às cerimónias de entronização e confirmação, começando pelas entronizações admitidas pelo Conselho de Anciãos. O primeiro entronizado proposto foi Lino Bilber Gonçalves, natural de Miranda do Douro e residente em Lisboa, apresentado pelo padrinho Virgílio Gomes. Virgílio Gomes começou por referir que o candidato gosta de receber e cozinhar para os amigos, embora afirme constantemente que não o sabe fazer com a mestria desejável. Tal não é verdade, na medida em que sempre que carrega o celário de produtos do planalto, os repastos seguintes são divinais, o que atesta a importância da origem dos produtos locais na alta cozinha. A este respeito, o padrinho afirmou que o candidato está a desenvolver um trabalho sobre precisamente as tradições alimentares, em que o livro servirá de prova à confirmação, se assim o entender o Diretório de Notáveis. Seguiu-se a proposta de Ana Alves, apresentada pelo mui respeitável Grão-Mestre. Responsável pelo departamento de Enologia da Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes, a enóloga tem a grande responsabilidade de certificar os Vinhos Transmontanos, entre os quais os produzidos em lagar rupestre, tema do Capítulo de hoje.

Após explicação verbal, vulgo puxão de orelhas, quanto ao modo de conduzir o Capítulo por parte do mui respeitável Grão-Mestre, o aprendiz a Mestre de Ritos e Cerimónias apresentou o candidato a Confrade Irmão Luciano Peredo. Apresentando-se como transmontano nascido e criado, o candidato referiu o seu privilégio de jantar todos os dias em restaurante que envergonha qualquer 3 estrelas Michelin e cuja chefia da cozinha é confiada à sua esposa cuja Graça, Jacinta, nos faz transportar à exímia primeira cozinheira da primeira Pousada de Portugal, em Terras de Além Tejo. O seu testemunho como agricultor de prestígio na produção de castanha e azeite e sobretudo de mel e dos seus produtos, degustados por muitos dos confrades presentes, bastaria para confirmar o candidato. Contudo, a sua enorme capacidade de cultivar a amizade, que em Trás-os-Montes tem amanhos e granjeios tão particulares, com destaque para o seu desempenho em tertúlia gastronómica e enófila, foram o grande argumento que convenceu a assembleia.

Já dentro dos carris após o puxão de orelhas do seu mestre, o mui respeitável Grão-Mestre, o cada vez mais confiante aspirante a Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a última confirmação na agenda, o Confrade Noviço José Ribeiro. A explanação do candidato versou sobre as iguarias transmontanas, particularizando nas tripas aos molhos, esse petisco único de Vila Real criado por Fernanda Brite na Casa de Pasto Chaxoila, situada na mítica N2. Relembrou os doces Pito de Santa Luzia, santa comemorada a 13 de dezembro, e a Gancha de São Brás, a 3 de fevereiro, cuja tradição impele a namorada a oferecer o pito em dezembro e de ser retribuída com a gancha dois meses após esse majestoso ato. No entanto, é mais aceite pelos grandes estoriadores que, na origem da tradição, seria primeiro o namorado a oferecer a gancha em fevereiro e só teria o prazer de degustar o pito 10 meses depois.

O Capítulo aprovou por unanimidade as confirmações propostas.

Puxando mais uma vez pela cada vez mais gasta cábula, o Grão-Conselheiro releu os estatutos e regulamentos da CEGTAD no que se refere às enormes responsabilidades que nos impele a honrar a capa que vestimos. Seguiu-se a cerimónia de juramento dos investidos e, por obrigação, de todos os confrades presentes.

O sobresselente Mestre de Ritos e Cerimónias conduziu a palavra ao mui respeitável Grão-Mestre que começou por parabenizar os detentores das novas insígnias. Introduziu o tema do Capítulo, a origem da enofilia, cuja comunicação Lagares em estruturas escavadas na rocha seria realizada pela Confrade Maria de Jesus Sanches, Professora Associada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Contudo o Corona Vírus também impediu a participação da ilustre conhecedora das criações dos primeiros confrades inspirados por Baco.

Com a sua sapiência vedada aos comuns dos mortais, o nosso mui respeitável Grão-Mestre sugeriu democraticamente que o Vereador Jorge Pires e o confrade fundador Augusto Laje dissertassem sobre Adérito Freita, o ilustre valpacense que, em 2010, publicou a primeira edição de Lagares Cavados na Rocha. Como as sugestões do mui respeitável Grão-Mestre são ordens, a evocação de Adérito Freitas foi iniciada por Jorge Pires, que aproveitou a oportunidade para dar as boas-vindas em nome do Edil de Valpaços. Acompanhado da Fátima, arqueóloga do município que tem realizado um trabalho notável na recuperação do património arqueológico do concelho, de que a catalogação dos lagares reupestres poderão ser o embrião de uma candidatura à lista do património da UNESCO, referiu a política do município de valorizar esse património através da sua ligação aos valores imateriais, como o Calcatorium, proveniente da vinificação de uvas provenientes de vinhas velhas exclusivamente em lagares rupestres. Também relatou o apoio do município às Confrarias enquanto veículo privilegiado dessa dinamização, proferindo, a propósito do vinho, uma palavra de apreço à Confraria dos Vinhos Transmontanos, nossa convidada de honra.

Seguiu-se a comunicação apaixonada de Augusto Lage, que nos transportou em sonho para os finais da pré-história, data em que se situará a construção de muitos lagares rupestres. Terá sido mesmo num desses almoços de tertúlia de uma Confraria análoga à nossa, algures na Mesopotâmia, terra onde também abundam lagares rupestres, que o Grão Chanceler terá tido necessidade de relatar esses eventos em registos pictográficos na argila. E assim se fez a História.

Ainda esturvinhados após terem acordado deste sonho prolongado, os confrades despertaram com as notícias transmitidas pelo mui respeitável Grão-Mestre, começando por enaltecer a presença da CEGTAD na atribuição do Doutoramento Honoris Causa à nossa Confrade de Mérito Graça Morais. Antes da apresentação do livro O Monge Errante de António Tiza, foi ainda evocada a memória dos confrades António Ribeiro e Antoine Bailly que nos deixaram muito recentemente.

Regressando à apresentação do Romance do Confrade António Tiza, o Mui Respeitável Grão-Mestre enalteceu as suas qualidades literárias, particularizando na capacidade do autor narrar uma ação ficcional passada no Século XIV, envolvendo o leitor numa estória de dois Irmãos de uma Confraria Transfronteiriça estabelecida entre o mosteiro cisterciense de São Martinho de Castanheda, na Sanábria e o beneditino de Castro de Avelãs, em Bragança num cenário de marcado rigor histórico, onde não falta a referência à planta do bucho, ao quotidiano conventual e das comunidades envolventes, aos canivetes de Palaçoulo, às ponteiras das gaitas, aos repastos nas tabernas dos caminhos peregrinos, retratos culturais e paisagísticos que ainda hoje têm grande importância na cultura de Trás-os-Montes.

A terminar, o Mui Respeitável Grão-Mestre anunciou o tema do próximo capítulo dedicado aos espumantes. O reserva do Mestre de Ritos e Cerimónias anunciou a disponibilidade do Mui Respeitável Grão-Mestre em conceder a palavra aos Confrades. Contudo, já com a barriga a dar horas, não surgiram interessados, pelo que, em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, o aprendiz a Mestre de Ritos e Cerimónias, ainda com muito que aprender, deu por encerrado o Capítulo de Primavera.

Valpaços, Casa do Vinho, 14 de maio de 2021.O Grão-Chanceler, José Vieira


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