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ACTA do XL CAPÍTULO GERAL - "Tributo ao Padre António Lourenço Fontes"
Criado por jvieira em 05/06/2014 23:13:41

ACTA do XL CAPÍTULO GERAL - "Tributo ao Padre António Lourenço Fontes"

ATA de l XL Capítulo Giral – “Tributo al Padre António Lourenço Fontes”



ACTA do XL CAPÍTULO GERAL - "Tributo ao Padre António Lourenço Fontes"

ATA de l XL Capítulo Giral – “Tributo al Padre António Lourenço Fontes”

Aos dezanove dias do mês de Outubro do ano da graça de dois mil e treze, às dez horas em ponto, reuniu-se no Auditório do pavilhão multiusos de Montalegre, em Capítulo Geral, a Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, presidido pelo magnífico Grão-Mestre. Da agenda da Assembleia Magna da Confraria constavam três pontos:

1.      Tributo ao Padre António Lourenço Fontes;

2.      Entronizações e Confirmações;

3.      Outros Assuntos de interesse geral.

O Mestre de Ritos e Cerimónias abriu o Capítulo de Outono com um tributo ao legado deixado por dois Confrades que tiveram papel decisivo na defesa, prestígio, valorização, promoção e divulgação dos vinhos, gastronomia e cultura das regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro e Galiza: Roger Teixeira Lopes e José Posada, secretário perpétuo da Confraria Irmã dos Vinhos Galegos. Tinham em comum a alegria de viver, a amizade, a jovialidade e uma paixão imensurável pelos aromas, sabores e gentes desta grande região transfronteiriça. Nesta sequência foram dadas as boas vindas ao representante da Irmandade dos Vinhos Galegos, Afonso Ribas.

Antes de dar início às entronizações e confirmações, foi solicitado aos confrades que assinassem o livro de presenças durante o almoço, uma vez que não tem sido prática seguida em capítulos anteriores (não sei se neste também o foi).

Foram entronizados como Confrades Noviços: Gabriela Mott, Adérito Martins Gonçalves, Maria Adosinda Marcelino, Manuel Morais Sousa e Alda Brás. Foram confirmados como Confrades Irmãos: Álvaro José Machado e Sónia Ribeiro Carvalho.

As provas apresentadas por Álvaro José Machado não deixaram dúvidas sobre o seu contributo para a divulgação dos vinhos e gastronomia de Trás-os-Montes e Alto Douro. O Capítulo votou por unanimidade a sua entronização como Confrade Irmão. A sua dissertação teve como tema as virtudes do consumo moderado de vinho na saúde humana, elencando um conjunto alargado de patologias onde o benefício para a saúde tem sido cientificamente comprovado, desde as doenças de coração, alguns tipos de cancro, destacando também um efeito comprovado na prevenção da osteoporose. Este efeito benéfico está associado às mais de mil substâncias antioxidantes presentes no vinho, particularmente na multiplicidade de castas ancestrais da região transmontana e duriense.

A confrada noviça Sónia Ribeiro Carvalho apresentou provas consideradas meritórias por todos os confrades presentes no Capítulo de a entronizar como confrada irmã. Começou a sua exposição com a referência à sua actividade profissional enquanto gestora e responsável pela qualidade agro-alimentar de uma das PME do concelho de Mirandela cujo principal produto comercializado é a maravilha das maravilhas da gastronomia portuguesa: A Alheira de Mirandela.

Com a fama proporcionada pelo concurso das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, a confrada noviça tem levado o famoso enchido transmontano aos quatro cantos do mundo. O seu esforço pela internacionalização dos produtos transmontanos não se esgota nos interesses comerciais da sua empresa. Não só viaja com a Alheira na sua mala (térmica bem entendido), mas leva sempre consigo o Queijo Terrincho, o Azeite de Trás-os-Montes, Mel da Terra Quente, Vinho de Trás-os-Montes, compotas, pão e o folar de Trás-os-Montes, através das múltiplas parcerias que tem estabelecido com produtores transmontanos. A sua aposta na qualidade tem vindo a dar os seus frutos, de que foi exemplo recente a medalha de ouro obtida pela Alheira de Mirandela e Folar no Concurso Nacional integrado na Feira Nacional de Agricultura de Santarém.

Seguidamente procedeu-se às entronizações dos confrades noviços, iniciando-se pela Gabriela Mott, apresentada pelo Confrade Fundador Jerónimo Montenegro. A Gabriela é brasileira de nascimento e trasmontano-duriense de coração, estando radicada em Portugal há uma dúzia de anos. Ao serviço da empresa que representa tem sido uma forte dinamizadora da promoção dos produtos de Trás-os-Montes e Alto Douro, impulsionando as exportações de Azeite e Vinho para o mercado o Brasil e Estados Unidos e penetrando nos mercados exigentes de França e Suíça.

O nosso confrade irmão Virgílio Gomes apadrinhou a entronização de Adérito Gonçalves, um empresário brigantino da restauração. Nascido em Carção e criado em Rabal, o afilhado, através do seu restaurante, tem vindo a demonstrar a sua vocação para a profissão através da confecção e serviço de alta qualidade de cozinha transmontana com toque de autor, extensível à sua família que partilha com ele o negócio, tendo sido já meritório de ter recebido o Capítulo da confraria em duas das suas reuniões magnas.

A Maria Adosinda foi apresentada pelo nosso confrade irmão Acúrcio Martins. Aos doze anos cozinhava já para duas dúzias de pessoas no Lagar da Cooperativa de Izeda, sendo de realçar a simplicidade dos pratos que confeccionava para os trabalhadores, a malga de pão, azeite e alho. Não tendo feito da cozinha o seu ganha-pão, ela está-lhe no sangue e a gastronomia transmontana na Alma. Foi convidada num Capítulo a revisitar a cozinha transmontana. A sua acção permitiu recuperar algumas jóias perdidas, como a laranja dos fidalgos, as sopas de xis, a xurunfada de frutos mal cozinhados, entre muitos outros pratos que caíram no esquecimento.

O nosso Confrade Fundador e Grão-Restaurador, José Bessa Guerra, apadrinhou a entronização do confrade noviço Manuel Morais Sousa. Tendo nascido paredes meias com a mais famosa porca portuguesa, na vila de Murça, para alguns, capital do Universo, Manuel vive em Vila Real e desenvolve a sua actividade profissional a jurar constantemente em nome de Hipócrates, zelando pela saúde dos transmontanos e durienses. Apaixonado pela natureza, calcorreia montes e vales integrado no grupo de montanhismo de Vila Real. Sem intervenção pública relevante e mercê da sua condição de médico-cirurgião, passa mais tempo a coser o povo que a cozer para o povo. No entanto, não dispensa um bom prato, sobretudo se associado a momentos de tertúlia e reflexão filosófica sobre as dúvidas que a razão tece.

A última entronizada do Capítulo foi Alda Brás, apadrinhada pelo Confrade Fundador e Mestre de Ritos e Cerimónias, Domingos Amaro. A Alda é da Região de Basto, considerada a zona raiana de Trás-os-Montes com o litoral, encravada entre o Alvão e a Cabreira, amante da montanha, das suas gentes e dos frutos que o lameiro produz.

O Conselho de Anciãos pronunciou-se por unanimidade pela admissão da totalidade dos confrades noviços propostos.

Seguidamente o Grão Conselheiro deu início à cerimónia de entronização dos confrades noviços e confirmação dos confrades irmãos. Enunciou os deveres impostos aos confrades e que estes terão de cumprir para pertencer a esta magnífica confraria: Conformarem-se com os estatutos e demais regulamentos da confraria e as determinações do nosso estimável Grão-mestre; Conhecer, defender e promover os excelentes vinhos e a magnífica gastronomia, bem como os produtos tradicionais que são laboriosamente trabalhados pelas gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro; renegar às bebidas e comidas que, de todo, não têm nada de natural, de autêntico e praticar sempre a arte de bem comer e de beber com moderação mas bem. Por fim, respeitar os demais confrades, prestando ajuda sempre que for necessário e tudo fazer para dignificar o bom nome da nossa confraria.

O magnífico Grão-Mestre terminou as cerimónias de entronização e confirmação explanando a magia que acontece, não fosse Montalegre terra de bruxas, quando alguém se torna irmão da Confraria dos Gastrónomos e Enófilos de Trás-os-Montes e Alto Douro. É a felicidade no seu estado mais elevado. O sol aquece e ilumina todos da mesma maneira, mas nem todos o sentem e apreciam como nós estar ao sol de papo cheio, transmontano ou duriense. Também no Barroso, estar à lareira, no escano, de papo cheio, no silêncio e no aconchego do lume é testemunho desta suprema forma de felicidade. Felicidade é também ter alguém que se pode perder. Na tristeza da perda de Roger Teixeira Lopes e Fernando Carlos surge a felicidade da saudade ad aeternum que a compartilha de tantos momentos simples de felicidade estes confrades nos proporcionaram. Neste contexto, o magnífico Grão-mestre brindou emotivamente à imortalidade dos que deixaram de partilhar connosco o nascer do sol. Foi também dada uma palavra de estímulo ao nosso confrade Amadeu Ferreira para que se arribe de la sue malina.

Em Terras de Barroso, o magnífico Grão-Mestre ordenou aos confrades presentes para que sejam felizes. Não porque ali encontrariam a felicidade, mas porque podem disfrutar na sua plenitude aquele momento de extrema felicidade. Nesta sequência, elencou as características da alma deste povo, dos seus costumes, dos seus produtos, do aroma e sabores que nos proporcionam, e a infelicidade que é não poder, como nós, partilhar, de corpo e alma, estes momentos contemplativos.

Seguidamente o magnífico Grão-Mestre agraciou, sob proposta do Directório de Notáveis, o Confrade Irmão Padre António Lourenço Fontes como Confrade de Mérito. O seu trabalho em prol das comunidades rurais, particularmente em Terras de Barroso, testemunhadas em diversas publicações, do próprio ou em co-autoria, são plenamente justificativos desta atribuição.

Foi constatado no semblante do Padre Lourenço Fontes estar ele próprio possuído por aquela felicidade anteriormente explanada pelo magnífico Grão-Mestre. Partilhou connosco a felicidade que estava a sentir por ter sido agraciado com tal distinção, confessando mesmo que, comemorando o cinquentenário da ordenação de padre, não poderia ter recebido melhor prenda, sobretudo em Terras de Barroso que todos amamos e estimamos.

Antes de ser dado por terminado o Capítulo, o Grão-Mestre comunicou alterações nos órgãos sociais. Por motivo do Confrade Roger Teixeira ter partido em 17 de Junho, foi dado posse de Grão-Chanceler ao Confrade Irmão José Vieira. Também foram substituídos o Primeiro e Segundo Tabeliões, tendo tomado posse respectivamente a Confrada Irmã Ana Maria Nazaré Pereira e o Confrade Alfredo Branco.

Não havendo mais nada a acrescentar O Mestre dos Ritos e das Cerimónias deu como encerrado o XL Capítulo da Confraria dos Gastrónomos e Enófilos de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Pela felicidade que nos proporcionaram antes da degustação do Cozido Barrosão, a actuação da Companhia de Dança do Norte, com sede em Macedo de Cavaleiros, não poderia deixar de constar na presente acta. Com a encenação de excelência de Pedro Pires, o espectáculo A Profecia do Bardo e o Canto do Xamã deixou endeusados os confrades e convidados presentes na assembleia.

Como não poderia deixar de ser em terra de meigas (bruxas), a confraternização foi terminada com a tradicional queimada galega com o objectivo de as escorrentar. E foi assim que foi lido o esconjuro que terminou desta forma:

E quando esta beberagem

baixe pelas nossas goelas,

ficaremos livres dos males

da nossa alma e de feitiço todo.

Forças do ar, terra, mar e fogo,

a vós faço esta chamada:

se é verdade que tendes mais poder

que a humanas pessoas,

aqui e agora, fazei que os espíritos

dos amigos que estão fora,

participem connosco desta Queimada.

Enquanto o líquido erguido do pote com uma concha era deixado cair a pouco e pouco em chamas, percebemos todos que, de alguma forma, os nossos Amigos Roger Teixeira Lopes, Fernando Carlos e José Posadas também estavam presentes.

Montalegre, Terras de Barroso, aos 19 de Outubro de 2013

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