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ATA de l XLIV Capítulo Giral – “Na Ribera del Duero, la poesie nun se scribe nin se declama. Bibe-se.”
Criado por jvieira em 04/10/2015 08:33:14

ACTA do XLIV CAPÍTULO GERAL - "Na Ribera del Duero, a poesia não se escreve nem se declama. Vive-se."

ATA de l XLIV Capítulo Giral – “Na Ribera del Duero, la poesie nun se scribe nin se declama. Bibe-se.”

ACTA del XLIV Capítulo General – “En la Ribera del Duero la poesía no se escribe ni se recita, se vive.”


Aos vinte e oito dias do mês de Março do ano da graça de dois mil e quinze, às onze horas acrescidas de uma hora, em Aranda de Duero, Castilla e Lyon, España, reuniu-se no Auditório da Casa da Cultura, o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, presidido pelo Magnífico Grão-Mestre. Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

  1.  Boas-vindas pela Acaldesa Raquel González Benito;

  2. Leitura e votação da Acta do Capítulo Geral de Outono;

  3. Apresentação do Relatório de Actividades 2015 e Relatório de Contas 2014;

  4. Marcação do Capitulo Geral de Verão e Capítulo Geral de Outono;

  5. Comemorações dos 20 ANOS de Confraria;

  6. Outros assuntos.

O Capítulo da Primavera realizado em Aranda de Duero prosseguiu a rota dos poetas durienses, seguindo o percurso do Rio rumo à descoberta da sua meninice. Uma vez que mais de noventa por cento da área da Região de Trás-os-Montes e Alto Douro se encontra na Bacia Hidrográfica do Douro, era importante conhecermos as suas raízes, o seu comportamento juvenil, antes de transformar-se no rio adulto e maduro que é a alma do Reino Maravilhoso. Fica como curiosidade que, em Trás-os-Montes e Alto Douro, não drenam para o Douro apenas uma pequena parte do Município de Sernancelhe, onde se situa a Serra da Lapa, berço do Rio Vouga e grande parte do Município de Montalegre, cujas águas vão desaguar a Esposende ou, em menor volume, a Viana do Castelo. A Bacia Hidrográfica do Douro é a que ocupa a maior área da Península Ibérica, com mais de 97 mil km2, à frente da do Ébro com cerca de 85 mil e do Tejo com 81 mil. Outra particularidade do Douro é o seu perfil hidrográfico atípico. O Rio Douro tem uma nascença muito rebelde, já que nos seus primeiros 10 km o seu leito passa da cota dos 2140 metros onde se situa a fonte para 1200 metros ao passar pela Vila de Duruelo de la Sierra. Depois deste nascimento atribulado, após a sua passagem por Sória e até chegar a Miranda do Douro percorre mais de metade do seu trajecto (cerca de 500 km) na Meseta Ibérica, num vale largo, descendo apenas 300 metros até chegar a Portugal, onde rejuvenesce, passando o seu leito por vales encaixados. Durante o seu troço internacional de 120 km desce mais de 400 metros, o que o faz retornar ao seu estado selvagem, agora amansado pela construção das barragens para aproveitamento hidroeléctrico. O troço exclusivamente português, com mais de 200 km tem um declive médio reduzido, o que permitiu a sua navegabilidade, muito embora as características de vale encaixado com, alguns rápidos e inúmeros saltos, dificultaram a sua domesticação antes da construção das barragens.

Os confrades juntaram-se na Casa da Cultura de Aranda de Duero, no coração do Centro Histórico, tendo sido objecto de conversa a semelhança entre a feminilidade do Douro nestas paragens e a que alguns irmãos constataram existir no Mississípi, tendo a afável Alcaidessa de Aranda, Raquel González Benito, esboçado um sorriso comprometedor do nível erudito dessa cavaqueira.

O Mestre dos Ritos e das Cerimónias abriu o Capítulo, solicitando ao Magistral Grão-Mestre a participação no Capítulo da Alcaidessa de Aranda de Duero, tendo sido por este referido que seria uma honra para a nossa confraria a sua presença.

Os trabalhos foram iniciados após o anúncio do Mestre de Ritos e Cerimónias de que a Alcaidessa nos iria dar as Boas Vindas. Começou por agradecer a escolha de Aranda de Duero para a realização do primeiro Capítulo da confraria realizado fora de Portugal. Por ser localidade geminada com Miranda do Douro há 30 anos, enviou um cumprimento muito especial ao Sr. Presidente da Câmara, Artur Nunes.

Referiu a oportunidade que os confrades têm de visitar o grande tesouro da cidade que são os 7 km de adegas subterrâneas construídas entre os séc. XII e XVIII, onde as condições de humidade e temperatura permitiram as melhores condições ambientais para a vinificação e estágio do Vinho DO Ribera del Duero. Pediu aos confrades que fossem embaixadores da sua terra quando regressassem aos seus locais, terminando com os votos que a jornada de trabalhos fosse profícua.

O Grão-mestre agradeceu as amáveis palavras da Alcaidessa Raquel e ofereceu um conjunto de publicações das Rotas Turísticas de Trás-os-Montes e Alto Douro. A Alcaidessa agradeceu e retribuiu a cortesia com a oferta de uma réplica em estanho da planta original da cidade de Aranda de Duero de 1503, tendo a particularidade de ser o mapa urbano mais antigo de Espanha e que serviu de inspiração ao desenvolvimento das cidades do novo mundo conquistadas pela Coroa Espanhola. Ofereceu ainda um conjunto de publicações sobre o turismo e a arte em Aranda de Duero.

O Mestre de Ritos e Cerimónias passou ao ponto 2 da ordem de trabalhos, tendo o Grão-Chancelar procedido à leitura da Ata do Capítulo realizado em Ancede. Após sujeita a votação, a mesma foi aprovada pelos confrades por unanimidade. Seguidamente, o Mestre de Ritos e Cerimónias voltou a referir a necessidade de assinatura do livro de actas durante o almoço.

Seguiu-se a intervenção do Digníssimo Grão-Mestre. A sua primeira intervenção centrou-se no seu elogioso agradecimento à forma exemplar com que a nossa confrada Maria Ángeles Izquierdo, organizou o capítulo. A assembleia votou por unanimidade o voto de apreço à organização do evento. Anunciou à Assembleia Magna da Confraria o início a 17 de Outubro de 2015 das comemorações dos vinte anos da CEGTAD, coincidindo com a realização do Capítulo de Outono, cuja organização foi confiada pela primeira vez e numa data tão especial a um Confrade Noviço, cabendo tal sorte à Alexandrina Fernandes, administradora da empresa de enchidos tradicionais Bísaro, sendo coadjuvada pelo confrade Vasco Veiga da empresa Sortegel - Produtos Congelados, S.A..

As comemorações serão concluídas no Capítulo de Outono de 2016, estando ainda em discussão a sua organização. Nesse propósito, o Magnífico Grão-Mestre exortou a Assembleia para apresentação de propostas. O Capítulo de Primavera está já a ser preparado por confrades de Torre de Moncorvo e será incluído nas festividades da Amendoeira em Flor. Durante este ano, está também previsto a realização de um Capítulo extraordinário, interligado com a candidatura da Rede de Cidades de Magalhães a património Mundial da Unesco e com a criação da primeira rede mundial turística. A CEGTAD está atenta e apadrinhará esta iniciativa com toda a sua energia, não só directamente pela homenagem a um ilustre Navegador Duriense, mas sobretudo porque a rede apresenta um enorme potencial para promover turisticamente a Região de Trás-os-Montes e Alto Douro nos quatro cantos do mundo por onde Fernão de Magalhães passou, bem como os seus produtos agro-alimentares de reconhecida qualidade.

O Venerável Grão-Mestre apresentou ainda a situação actual do projecto PITER, referindo que a entidade gestora se encontra já dotada financeiramente, estando em fase de conclusão a montagem em Angola de um restaurante e 10 lojas que terão em breve à disposição dos seus clientes os produtos transmontanos com a qualidade garantida pelo grupo de especialistas da confraria. A formação é igualmente factor a privilegiar pela Sociedade PITER, tendo sido já formados 10 cidadãos de Angola e Moçambique.

Outro projecto apresentado pelo Grão-Mestre que ainda se encontra em fase de negociação é a participação da Sociedade PITER no capital de uma empresa da região com o objectivo de constituir uma escola de hotelaria e restauração baseada na cozinha tradicional transmontana e na confecção dos produtos de origem local e em que a CEGTAD será consultora permanente. Muito embora o Grão-Mestre tivesse apresentado o projecto com maior detalhe, tendo em consideração a salvaguarda do processo negocial, foi por este solicitado que a acta não contivesse maior nível de especificações, tendo a assembleia acordado por unanimidade o dever de reserva. Ficou a promessa da sua difusão detalhada logo que oportuno.

Seguidamente apresentou as actividades desenvolvidas pela confraria após o Capítulo de Outono, destacando a participação a 22 de Março em Torre de Moncorvo na III Cimeira de Confrarias de Trás-os-Montes vocacionadas para a preservação dos produtos agro-alimentares e que tem por objectivo articular os planos de actividade destas organizações. A ausência de incompatibilidade temporal entre os eventos das várias confrarias e a identificação de estratégias comuns com vista a potenciar a comercialização dos produtos transmontanos são os principais objectivos destas reuniões.

Em relação ao Capítulo de Verão de 2015, a data foi definitivamente estabelecida para dia 6 de Junho. A Feira do Livro de Lisboa dedicará este dia aos autores transmontanos, tendo a confraria proposto a homenagem a Amadeu Ferreira durante o evento, razão porque não tem sentido optar-se por outra data.

Em relação à votação do relatório de contas de 2014 o Grão-Mestre informou que estava já elaborado. Contudo, tendo em consideração a existência no cadastro de informação desactualizada relativamente à quotização dos confrades, solicitou que o mesmo fosse apenas votado em Junho, tendo a assembleia acordado por unanimidade que a votação realizar-se-ia em Lisboa.

Foi ainda concedida a palavra ao Grão-Chanceler para a narração do menu de degustação que decorreu na quarta-feira anterior na sede da confraria. Todos os sete pratos apresentados na refeição, à excepção da meritória açorda de espargos apresentada pelo Respeitável Grão-Mestre, foram confeccionados pela Maria Adosinda Marcelinho, Mariazinha enquanto chefe de cozinha e todos eles tiveram na sua base os cuscos preparados pela sábia gente em Vinhais, verdadeira jóia da gastronomia transmontana. O Estimável Grão-Mestre acrescentou a estas palavras a notícia da publicação recente de um livro exclusivamente dedicado aos Cuscos de Vinhais da autoria da Mariazinha e do Acúrcio, que apresenta um conjunto significativo de receitas, excelentemente ilustradas, desde as entradas, passando pelos caldos e terminando nas sobremesas. A este propósito referiu que os cuscos foram abandonados da cozinha pela introdução do arroz e massas industriais, pelo fastidioso trabalho manual que exige a sua elaboração, tendo sido mantido apenas na aldeia de Paço do concelho de Vinhais. Felizmente que hoje a procura aumentou, incluindo alguns restaurantes de Lisboa e Porto, havendo já várias pessoas nas aldeias de vinhais que os vão produzindo da mesma forma que possivelmente os fariam aquando da presença muçulmana em Portugal.

O Capítulo foi encerrado pelo Mestre de Ritos e Cerimónias sem antes anunciar a intenção do Venerável Grão-Mestre de conceder a palavra a qualquer confrade que quisesse intervir a favor da confraria, não havendo manifestação de nenhum confrade nesse sentido.

O Mestre de Ritos e Cerimónias encerrou o Capítulo, referindo que às 13 horas, hora local, seria realizada a visita à adega onde se realizaria o almoço.

Literalmente, a nossa manjedoura foi na localidade de La Vid no Lagar de Isilla que em tempos não muito longínquos eram uma vacaria, reconvertida no complexo enológico actual com a adega, restaurante e hotel. Antes do repasto foi realizada uma visita à adega. Apesar da Vinha na Ribeira Del Duero ter sido difundida na região provavelmente ao mesmo tempo que no Douro Vinhateiro, através da ordem religiosa de Cister, no início do segundo milénio, existe um contraste significativo entre os vinhedos da região, não só oferecido pela disparidade orográfica. Apesar da área geográfica apresentar sensivelmente o mesmo valor, cerca de 250 mil hectares, a vinha na Ribeira del Duero é menos de metade da existente no Douro Vinhateiro que rondará actualmente cerca de 50 mil hectares. Por outro lado, as vinhas da Ribera são quase na sua totalidade constituídas por uma só casta, a Tinta del Pais ou Tempranillo, geneticamente próxima da Tinta Roriz do Douro Vinhateiro, enquanto na nossa região a variabilidade genética é incomensuravelmente superior, estando identificadas mais de 100 castas, das quais 29 são recomendadas, muitas delas com elevada qualidade enológica ainda não totalmente explorada.

As entradas foram servidas com um Rosado 2014, totalmente oriundo da casta Tinta Roriz que acompanhou as entradas onde se destacou um produto típico, a morcilla de Aranda. O prato principal de lechazo asado foi acompanhado de Roble 2013 de El Lagar De Isilla, vinho à base de Tinta Roriz com uma pequena percentagem de uvas de Cabernet Sauvignon e estágio em barricas de carvalho francês e americano durante 5 meses. Apesar da qualidade indiscutível da refeição, foi constatado pela generalidade dos confrades que o Cordeiro de Leite assado em forno de lenha em Trás-os-Montes em nada tem razões para se envergonhar.

Durante a refeição foi ainda com elevada satisfação que nos apercebemos da qualidade vocal da Anita, neta do Tiu Ângelo que enriqueceu sobremaneira as interpretações do Tiu Ângelo e do seu neto Dinis. Com certeza teremos oportunidade de voltar a apreciar o trio em futuros capítulos.

Aranda de Duero, 28 de Março de 2015

O Grão-Chanceler,

José Vieira

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