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ATA de l XLVI Capítulo Giral – “20 Anhos de la Cunfrarie.”
Criado por jvieira em 05/10/2016 10:01:22

ACTA do XLVI CAPÍTULO GERAL - "20 Anos da Confraria."

ATA de l XLVI Capítulo Giral – “20 Anhos de la Cunfrarie.”


Aos dezassete dias do mês de Outubro do ano da graça de dois mil e quinze, às dez horas acrescidas de uma hora, em Bragança, reuniu-se no Salão Nobre do Teatro de Bragança, o Capítulo Geral da Confraria dos Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, presidido pelo Magnífico Grão-Mestre. Da ordenança da assembleia magna da confraria constavam os seguintes pontos:

1.      Leitura e votação da Acta do Capítulo Extraordinário de Verão;

2.      Rituais de Entronização e Confirmação;

3.      Execução do Plano de Actividades de 2015 e Relatório de Contas de 2014;

4.      Plano de Actividades para 2016;

5.      Prelecção sobre botulismo alimentar proferida pela Vice Grã-Mestre, M.ª Isabel Escudeiro.

O Mestre dos Ritos e das Cerimónias, em nome do Mui Respeitável Grão-Mestre, anunciou a abertura do Capítulo de Outono, tendo enaltecido as cores outonais da paisagem da Terra Fria e comparando essa beleza com a imagem saudosa do seu tempo de estudante passado nesta cidade. Passou ao ponto 1 da ordem de trabalhos, tendo o Grão-Chancelar procedido à leitura da Acta do Capítulo de Verão realizado em Lisboa.

Após a sua leitura, o Mestre de Ritos e Cerimónias fez um reparo sobre a utilização dos termos utilizados nas actas quando era feita referência ao Mui Respeitável Grão-Mestre. Doravante, deveria ser sempre cognominado de Mui Respeitável. O Grão-Chanceler aceitou o reparo sem antes referir a dificuldade em transcrever para texto a grandiosidade, a audácia, a sageza, a magnificência, a bondade, a humildade, a notabilidade, o charme, do tão ilustre magno protector da nossa confraria, o Mui Respeitável Grão-Mestre.

Após sujeita a votação, a acta do Capítulo de Verão foi aprovada com uma abstenção.

O Mestre de Ritos e Cerimónias voltou a referir a necessidade dos confrades assinarem o livro de presenças, ou no final do Capítulo ou logo após o almoço. Seguidamente, passou para a leitura da ordenança e anunciou a entronização da Confrade Legatária Sara Salgado Bernardo e dos Confrades Noviços Miguel Monteiro e António Pimentel Sanches. Referiu ainda que a sessão irá terminar com as prelecções da Vice Grã-Mestre sobre Botulismo Alimentar e do Grão-Mestre sobre os 20 anos da Confraria.

Após aprovação pelo Conselho de Anciãos dos confrades noviços, as entronizações iniciaram-se com a apresentação de António Pimentel Sanches. Filho de viticultor de Castelo Branco, Mogadouro, que plantou vinha com as melhores castas durienses, herdou do pai as qualidades de enófilo. Nas visitas à adega havia um cerimonial peculiar. Seu pai tinha um casaco com dois grandes bolsos. O do lado direito tinha os copos lavados que eram colocados no lado esquerdo após a sua utilização. O filho herdou os dotes de enófilo e gastrónomo, sendo comum em casa do Confrade Noviço a confecção por este dos melhores repostos inspirados na cozinha transmontana.

O Mestre de Ritos e Cerimónias apresentou o Confrade Noviço Miguel Monteiro, tendo elogiado os seus dotes na preparação das patuscadas realizadas com o grupo de amigos brigantinos. Mestre no movimento dos seres bípedes, o confrade poderá ter um papel importante quando surgirem dificuldades de sustentação nos membros inferiores no seio da confraria. Tendo sido o próprio a demonstrar interesse em pertencer à nossa Confraria, a sua vontade de participar é promissora do profícuo contributo que poderá dar à CEGTAD.

O Grão Conselheiro anunciou Sara Bernardo como Confrade Legatária do Confrade Edgar Bernardo. A sua ligação a Torre de Moncorvo e o acompanhamento que vinha realizando nas actividades da confraria são o garante da continuação do legado de seu pai.

A primeira candidata a Confrade Irmã foi Alexandrina Fernandes. A argumentação apresentada sustentou-se no meritório trabalho que tem realizado em prol do Desenvolvimento Rural de Trás-os-Montes e Alto Douro no sector do Turismo Rural e do seu efeito potencial no mercado dos produtos de origem local. Logo no seu primeiro argumento, a assembleia apercebeu-se estar na presença de uma candidata que enaltece o labor dos transmontanos e das transmontanas na criação dos excelentes vinhos e comidas que caracterizam a região. A sua avó Beatriz foi a sua fonte de inspiração. Estabeleceu-se em Gimonde com uma mercearia e taberna, tendo rapidamente ganhado fama junto dos citadinos endinheirados de Bragança e dos viajantes, apreciadores dos bons vinhos e petiscos preparados pela exímia cozinheira. Em 1990 o seu pai toma a rédea dos negócios. É aberto o Restaurante D. Roberto, permanecendo a taverna vocacionada para os vinhos e petiscos. A mercearia deu origem à loja de produtos regionais, onde o viajante pode adquirir os produtos que satisfazem o palato dos mais exigentes apreciadores da excelência da cozinha transmontana. Os negócios diversificaram-se, incluindo actualmente uma unidade de produção de enchidos que privilegia a matéria-prima local, nomeadamente as produzidas na Quinta das Covas onde se destaca o porco de raça bísara. Mercê da sua formação académica em turismo, a candidata encontrou na dinamização da unidade de Turismo Rural a componente potenciadora do comércio dos produtos de origem local, obviamente com destaque aos produzidos e/ou comercializados pelo grupo.

Desde que a Confrade foi entronizada por proposta do Confrade de Mérito Virgílio Gomes, em Junho de 2014, que a dedicação evidenciada deu um grande salto, certamente ajudada pela sapiência que lhe foi transmitida pelo Grão-Chanceler durante a viagem que a conduziu à admissão na nossa comunidade. Quase deixaria tudo a perder quando apresentou um vídeo onde, no convés da nau dos corvos, o ilustre membro do Directório de Notáveis aparentava semblante comprometedor. Não fora a astúcia da assembleia ao se aperceber que tal comportamento resultou exclusivamente da influência da ondulação marítima e a confirmação como Confrade Irmã poderia ter ficado em perigo.

Seguiu-se a prestação de provas do Confrade Noviço José Luís Rosa. Chegou a Bragança para cumprir um ano de estudos no Instituto Politécnico de Bragança, com o objectivo de rumar a outras paragens mas a posta de vitela mirandesa e outras iguarias da Terra Fria, saboreada em tertúlia, não permitiram que o desiderato inicial se concretizasse. A sua admissão como técnico no Parque Natural de Montesinho proporcionou-lhe uma dedicação especial à conservação da natureza. Desde tempos imemoriais que o lobo e o homem têm uma relação difícil, especialmente para os pastores. O programa de conservação do lobo ibérico levou à existência de certo grau de conflitualidade entre o Parque Natural e os agricultores. No entanto, a dedicação do candidato em convencer os pastores a introduzir nos rebanhos um cão de guarda de uma raça também ela em vias de extinção, proporcionou que as necessidades de preservação da natureza pudessem ser compatibilizadas com a exploração silvopastoril. Efectivamente, a introdução dos cachorros vieram proteger os rebanhos dos ataques do lobo, reduzindo substancialmente essas ocorrências, o que permitiu diminuir a despesa pública com indeminizações aos pastores ao mesmo tempo que proporcionam uma confiança recíproca entre estes e o Parque Natural. Agradecem os apreciadores de carne de borrego e os artesãos de burel.

A defesa da última confirmação coube ao confrade noviço Francisco Escaleira Ribeiro. Nascido em Fornelos, freguesia duriense, o candidato reparte o seu coração entre o Alto Trás-os-Montes onde vive há 30 anos e o Alto Douro Vinhateiro, onde tem as suas raízes. Respondendo a um desafio da madrinha de confraria, a Encantadora Vice Grã-Mestre, o Confrade Noviço, notável artista plástico, pintou em óleo sobre tela as Vinhas de Cortiçadas, tendo-a oferecida à Confraria, o que deixou a assembleia profundamente encantada com a sua amabilidade, tomando o facto como prova irrefutável da dedicação do candidato à confraria. Para enquadramento da obra de arte, caracterizou as vinhas de cortiçada que as distinguem das demais vinhas da Região Demarcado do Douro e abrangem não mais de 50 ha. Ainda se podem encontrar algumas adegas, embora na maioria em ruina. Era comum nas tardes de domingo, os compadres fazerem a ronda às adegas, que muitas vezes só terminavam aos primeiros raios de sol de segunda-feira. Com a filoxera grande parte desta área foi conquistada pelo olival e as poucas vinhas de cortiçada que ainda se podem encontrar estão vindo a desaparecer com a reconversão das vinhas. Fica a esperança que este riquíssimo património inserido num outro já confirmado pela UNESCO seja preservado e os confrades venham a ter o privilégio de voltar a fazer a ronda das adegas do vinho produzido nas vinhas de cortiçadas.

O Confrade Noviço apresentou ainda os riquíssimos pratos da aldeia, mostrando imagens do Bazulaque, das Tripas à Moda de Fornelos, das Castanhas com Orelha Curada, do Cabrito Assado em Forno de Lenha no Alguidar de Louça de Bisalhães e como doces, a aletria e o leite-creme.

A assembleia aprovou por unanimidade a proposta de admissão como associados de pleno direito com o título de Confrades Irmão, os três Noviços que prestaram provas da sua dedicação durante um ano à Confraria.

Encerrando o segundo ponto da agenda o Grão Conselheiro procedeu ao acto solene de juramento dos confrades entronizados e confirmados, exaltando-os mais uma vez para a defesa intransigente da gastronomia e vinhos que as suas gentes de Trás-os-Montes e Alto Douro tão laboriosamente os produziram.

Sendo o Capítulo realizado em Bragança, cidade que tanto Amadeu Ferreira acarinhou, o Mestre de Ritos e Cerimónias não deixou passar a oportunidade de o relembrar, declamando uma dedicatória que o escritor lhe escreveu num dos seus livros. Como Amadeu certamente gostaria que o recordassem com alegria, o Mestre de Ritos e Cerimónias pediu uma salva de palmas ao seu legado.

Seguiu-se outro momento alto da reunião magna da CEGTAD. Os sábios conhecimentos técnicos da Médica Veterinária Isabel Escudeiro, Vice Grã-Mestre da CEGTAD, foram a base de mais uma excelente comunicação a que a nossa Confrade já nos habituou. Desta vez acresce que não poderia ter existido maior sentido de oportunidade, já que há pouco mais de 15 dias surgiram notícias sobre intoxicações alimentares provocadas por uma bactéria em alheiras provenientes da região e que têm provocado um grave decréscimo de vendas nos produtos da salsicharia transmontana. A sua intervenção iniciou-se na afirmação da responsabilidade que têm todos os confrades na defesa da Região de Trás-os-Montes, dos seus produtos e da sua gastronomia. O facto de estarem informados sobre a doença provocada pela bactéria causadora do botulismo é muito importante, tendo cada um a obrigação de difundir a informação de forma a tranquilizarem os demais consumidores já que consumir produtos transmontanos é sinónimo de optar por produtos de excelente qualidade.

O medo combate-se com informação. A primeira informação retida pela assembleia é que o botulismo é uma doença rara. Embora a bactéria que provoca o botulismo é endémica em todo o mundo e está presente num conjunto significativo de alimentos, o envenenamento que provoca pela libertação de uma toxina geradora da doença só ocorre em meio anaeróbico e, portanto, em produtos transformados. O desenvolvimento da bactéria é ainda favorecido por elevados teores de humidade e ph neutros a alcalinos, razão porque a sua ocorrência na generalidade dos produtos transformados se torna impossível. Por seu lado, a toxina é destruída quando submetida a temperaturas superiores a 80º durante pelo menos 10 minutos, o que poderá ser factor a reter na confecção quando não temos confiança total na origem do produto e da forma com que foi armazenado, já que as contaminações secundárias também poderão provocar a doença.

Ao contrário do alarmismo que a notícia indiciou, a principal ocorrência de botulismo alimentar não se encontra na indústria alimentar mas na manufactura caseira de produtos sem serem respeitados princípios básicos de higiene e de minimização de risco na conservação, nomeadamente assegurando um meio ácido e reduzindo os teores de humidade. As caldas tradicionais com que se preparam as alheiras e outros enchidos, ricas em sal, alho e louro, são também uma forma de evitar o desenvolvimento da bactéria.

Todos os confrades ouviram atentamente a brilhante apresentação da Magnífica Vice Grão-Mestre e interiorizaram a enorme responsabilidade de voltar a credibilizar a industrial agro-alimentar transmontana que foi infundadamente colocada em causa por um tipo de jornalismo que não privilegia o esclarecimento da opinião pública. Quando as pessoas lêem que o botulismo retira dos supermercados as alheiras Origem Transmontana ficam a pensar que o problema está na Região, afirmação que, obviamente, não é minimamente verdadeira. Com esta exposição, abriram-se duas linhas de debate a aprofundar no seio da CEGTAD:

1.      A regulamentação na utilização por certas empresas de determinados nomes comerciais que induzem o consumidor em erro, prejudicando a Região no seu todo e em particular a confiança nos produtos com Denominação de Origem ou Indicação Geográfica.

2.      A necessidade de promoção de acções de divulgação e formação dirigida a consumidores em geral, mas também a todos os que se dedicam à confecção caseira de compotas e outras conservas a que ao exigente saber fazer das receitas tradicionais se deverá associar a salvaguarda das condições de higiene e de conhecimentos mínimos de tecnologia alimentar que permitam minimizar os riscos.

Seguiu-se a apresentação das contas do exercício de 2014 por parte do Mui Respeitável Grão-Mestre. Após auditadas pelo Confrade Edgar Bernardo e sujeitas a escrutínio por parte do Conselho de Inquiridores, foi possível constatar que a confraria goza de saúde financeira. Não obstante, o representante do Conselho de Inquiridores referiu que existe alguma dificuldade na cobrança de quotas, já que existem muitos confrades que têm a sua conta corrente atrasada, incluindo confrade que têm mantido algum contacto com a confraria.

O relatório de contas de 2014 foi aprovado por unanimidade, comprometendo-se os confrades a ter sempre a sua conta corrente regularizada até à realização do capítulo de primavera.

A boa memória do nosso Mui Respeitável Grão-mestre, aleada às suas capacidades oratórias permitiu que o discurso com que se abriram as comemorações dos 20 anos de confraria fosse de improviso. O Mui respeitável Grão-Mestre datou a fundação da CEGTAD no dia 16 de Outubro de 1995, na sequência de uma reunião realizada com alguns dos confrades fundadores e em que ficou decidido que a confraria teria uma dupla aptidão, de enaltecer a gastronomia e os vinhos de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Seguiram-se duas reuniões com vista à constituição formal da confraria. Uma primeira realizada no Restaurante O Grês em Mirandela em que tiveram presentes 25 confrades e em que foi decido constituir vários grupos de trabalho com vista à criação dos estatutos e do traje, tendo a título de exemplo referida a incumbência a Domingos Amaro, o actual Mui Ilustre Mestre de Ritos e Cerimónias, de apresentar o traje que actualmente todos reconhecem ser a jóia da coroa da confraria. A 22 de Julho de 1996 é realizada a escritura pública e um mês antes da realização do mítico I Capítulo realizado no Hotel Palace do Vidago com a presença de 89 confrades é realizada a primeira reunião do Directório de Notáveis.

As comemorações dos 20 continuarão em Torre de Moncorvo com o Capítulo de Primavera a ser dedicado à amêndoa coberta, pérola da doçaria tradicional, símbolo máximo dos afectos e perseverança que, em conjunto com a Amêndoa do Douro e com a calda doce que delicadamente a vai envolvendo, são ingredientes necessários à sua confecção. Referiu ainda que foram enveredados todos os esforços para encerrar as comemorações onde se realizou o I Capítulo, no Hotel Palace do Vidago, mas os preços oferecidos pela unidade hoteleira não foram comportáveis. Assim, as comemorações terminarão em Sabrosa, com o tema a ser dedicado às Viagens de Fernão Magalhães e ao contributo que as cidades onde o navegador aportou podem dar à internacionalização dos vinhos e produtos da gastronomia transmontana. Para isso nada melhor que confiar a organização à nossa deusa dos vinhos a Magistral Grã-Escançã Celeste Marques, coadjuvada pelo Presidente do Município de Sabrosa, José Marques, também nosso confrade.

Relativamente à execução do Plano de Actividades de 2015, o Mui Respeitável Grão-Mestre fez um resumo dos Capítulos anteriores. Foi ainda referida a participação da CEGTAD na missão de internacionalização dos produtos agro-alimentares transmontanos, com especial enfoque à abertura da primeira loja no Estado de São Paulo, administrada por luso-brasileiros com origem transmontana, nomeadamente em Alfandega da Fé e Torre de Moncorvo. Se este vasto mercado é uma excelente oportunidade de valorização da produção transmontana, a sua dimensão potencial face à reduzida capacidade de oferta produtiva poderá criar problemas de assegurar oferta suficiente mantendo a qualidade dos produtos. Em todo o caso, a CEGTAD zelará sempre para que a qualidade dos produtos incluídos no projecto PITER esteja assegurada.

O Mui Respeitável Grão-Mestre deu a palavra ao anfitrião, o Presidente do Município de Bragança, Hernâni Dias, que agradeceu a eleição deste território para o início das comemorações dos 20 anos da confraria. Fez também um agradecimento muito especial ao papel que a confraria tem tido na divulgação dos produtos regionais e pelo esclarecimento oportuno relativamente à desmistificação do problema causado pelo botulismo que, por desinformação, tem causado danos consideráveis na economia local.

O Afectuoso Mestre de Ritos e Cerimónias deu por encerrado o Capítulo de Outono da Confraria Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Bragança, 17 de Outubro de 2015

O Grão-Chanceler,

José Vieira

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